sábado, 14 de maio de 2011

Pensando em escrever para minha mãe,


[..] em mudar de vida, de emprego, de cidade, de país, que vontade, querida mamãe, de SER FELIZ, de ter um grande amor bem limpinho, bem clarinho, um amor de manhã bem cedo, não diga nada a ninguém, não é preciso, mas cá-entre-nós-que-ninguém-nos-ouça, não vem dando muito certo, tenho tentado, JURO, beijos no pai, que ele não saiba que estou ficando velho, não conte a tia Flora que perdi as ilusões, que já nem lembro mais, e encho o saco disso e apago a luz e durmo e sonho.



E o que você faz com as cartas que escreve ?


- Guardo. A sete chaves. Um dia talvez possa
entregá-las pessoalmente.
(...)
- E… o que você diz nessas cartas? (...)
– Eu digo que estou disposto a qualquer coisa,
eu digo assim: "Chegue bem perto de mim. Me olhe,
me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada,
mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso
se perder, virar poeira, virar nada. Daqui há pouco você
vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se
perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor, chegue
mais perto"
- ... É tão complicado. Saio na rua e fico olhando todos os
meninos de vinte anos, como se cada um pudesse ser ele.





te darei toda riqueza de uma vida , meu amor ♪


Quero acordar do seu lado num domingo de manhã e saber que não temos hora para sair da cama. E, depois, ir tomar café na padaria e ler o jornal com você. Quero ouvir você me contar sobre o trabalho e falar detalhadamente de pessoas que eu não conheço, e nem vou conhecer, como se fossem meus velhos amigos. Quero ver você me olhar entre um gole de café e outro, sem nada para dizer, e apenas sorrir antes de voltar a folhar o caderno de cultura.Quero a sua mão no meu cabelo, dentro do carro, no caminho do seu apartamento. Quero deitar no sofá e ver você cuidar das plantas, escolher a playlist no ipod e dobrar as roupas esquecidas em cima da cama. E que, sem mais nem menos, você desista da arrumação, me jogue sobre a bagunça, me beije e me abrace como nunca fez antes com outra pessoa. E que pergunte se eu quero ver um DVD mais tarde. Quero tomar uma taça de vinho no fim do dia e deitar do seu lado na rede, olhando a lua e ouvindo você me contar histórias do passado.Quero escutar você falar do futuro e sonhar com minha imagem nele, mesmo sabendo que eu provavelmente não estarei lá. Quero que você ignore a improbabilidade da nossa jornada e fale da casa que teremos no campo. Quero que você a descreva em detalhes, que fale do jardim que construiremos, e dos cachorros que compraremos. E que faça tudo isso enquanto passa a mão nas minhas costas e me beija o rosto. Quero que você nunca perca de vista a música da sua existência, e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, mas a viagem. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na cama e pelos sonhos que comparilhamos enquanto olhávamos a lua. Que você acredite que não me deve nada simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívida, nem mágoa, nem arrependimento.
Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo o que vivemos. Que você me guarde na memória, mais do que nas fotos. Que termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a impressão que poderia ter se fartado um pouco mais. E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história, para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor da sua vida. E que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida. Que você nunca mais deixe de pensar em mim (...). E, por fim, que você continue a dançar na sala. Para sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando.

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